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,um quase nada ou um quase tudo, pensamentos sinuosos, passos descompassados, heterônimos, música, letra, péssima memória, muitos desejos, alguns livros roubados, as três, bons amigos, um grande amor, muitas frases inacabadas e reticências...

Os dedos


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Menina de saia rodada, ao vento sente-se borboleta e fora dele volta a sentir-se só. As poucas horas de um dia inteiro já a cansaram e ainda tem um corredor agigantado pelo vazio a seguir. O barulho de seus passos arrastados a faz acreditar que dor e amor são na verdade um único sentimento, sem encontrar uma palavra que defina esse inusitado jeito de sentir-se senta e encara seus pés como quem encara o desconhecido, com receio e bisbilhotice. A falta de sol a perturba, parece que as cores se apagam com o cinza do dia, porém percebe a plenitude em ser com os respingos da chuva que a faz lembrar de que se vive mesmo nos dias mais descoloridos. Há um mundo em sua volta e ela não sabe o que dele fazer, não era pra ser tão difícil, mas também ninguém disse que seria fácil. Seus pequenos dedos chamaram-na a atenção: porque dedos tão pequenos e tão finos? Caí de pára-quedas nessa vida, sem saber do que se vive e como se faz pra viver…Caí e chorei, porque não o riso ao invés de lágrimas? Como escolher os caminhos certos que devo seguir se não fui capaz de escolher meus próprios dedos? A menina assustou-se com seus pensamentos, percebeu que eles rumaram a uma direção que ela não desejava, tentou pensar no que comeria no jantar mas já era tarde demais, seus pensamentos não procuravam o óbvio, o perigo talvez, mas o óbvio não. Ao olhar o corredor que dobrara de tamanho seus olhos perderam-se como se valsassem sem música e sem par, perderam-se por medo de achar. Caso viessem a encontrar, já não existiria mais a busca, e do que então ela viveria? Os respingos já não a atingiam mais, a chuva cessara e ela nem se deu conta, decidiu levantar e enfrentar o corredor enquanto ele ainda cabia naquele momento. Um sopro de vento a fez borboleta novamente, ela deixou-se levar: Ah! Como me sinto culpada, parece que roubei toda a paz do mundo, toda a liberdade do mundo, todo o encanto do mundo e não me canso de querer mais e… A menina interrompeu seus pensamentos, o vento se foi. Num instante ela teve quase tudo que desejara e agora só tinha a poeira deixada pra trás,